terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Por que a mídia não se autoavalia?

Artigo publicado por Venício A. de Lima no site do Observatório da Imprensa de 28/12/2010


Final de ano é tempo de balanços e previsões. Pessoais e institucionais. É momento de parar e refletir sobre o que se fez, identificar erros e acertos, corrigir o que pode ser melhorado, reavaliar caminhos e objetivos, planejar o futuro.

A grande mídia faz avaliações públicas e previsões de e para tudo: de todos os setores do governo, da iniciativa privada, das ONGs, da política, de todas as artes, esportes, religiões, do clima, das tendências... Por óbvio, a grande mídia faz avaliações e previsões internas, como em todas as empresas privadas comerciais que precisam dar conta a acionistas de metas e resultados.

O que a grande mídia não faz são avaliações públicas de si mesma, de seu próprio desempenho, de sua parcialidade, de seus preconceitos, de suas tendências, de suas omissões, de suas escolhas, de seu papel na democracia. O que a grande mídia omite é a avaliação de si mesma como um serviço que, apesar de explorado pela iniciativa privada, não perde sua natureza de serviço público.

Por que será que a mídia, apesar da indiscutível posição de centralidade que ocupa nas sociedades contemporâneas, não pauta o debate sobre seu papel como faz permanentemente em relação a todas as outras instituições na sociedade?

Adaptação do panem et circenses

A explicação da grande mídia será sempre aquela que atribui ao mercado o papel de seu único e supremo avaliador. A grande mídia dirá que é permanentemente avaliada por seus consumidores/leitores/ouvintes/telespectadores e que seu sucesso ou fracasso comercial significa o cumprimento ou não de sua missão e o atendimento ou não das necessidades de seu "público". Se o jornal é comprado por X consumidores é porque satisfaz a eles. E essa é a melhor avaliação que pode existir. Essa é uma das versões da conhecida "teoria do controle remoto": se o consumidor não gosta do que vê, ele pode trocar de canal ou desligar o aparelho de TV.

Como já argumentei em outra oportunidade [ver "Donos da mídia – A falácia dos argumentos"], a "teoria do controle remoto" ignora como se formam, se desenvolvem e se consolidam os hábitos culturais, incluindo aqui o hábito de assistir determinados canais e/ou programas de TV ou de ler determinadas revistas e/ou jornais. Este é um fascinante campo da complexa "sociologia do gosto". Quando se atribui, sem mais, ao mercado o papel de supremo avaliador, reduz-se toda a problemática da comunicação de massa a uma única dimensão – do "consumo" individual – e ignora-se a complexa questão da formação social do gosto e do papel determinante que a própria mídia nela desempenha.

Além disso, o argumento pressupõe um mercado de mídia democratizado, onde estariam representadas a pluralidade e a diversidade da sociedade, o que, por óbvio, não existe. Ignora ainda o fato elementar de que não se pode gostar ou deixar de gostar daquilo que não se conhece ou cujas chances de se conhecer são extremamente reduzidas.

No fundo, trata-se de uma adaptação contemporânea [sem as problematizações levantadas por historiadores como Renata Garraffoni] do panem et circenses romano. Naturalmente, o sacrifício de cristãos, entregues às feras em espetáculos públicos, não torna a prática dos imperadores romanos correta. Dito de outra forma, nem tudo que agrada a parcela importante da população é automaticamente ético e correto.

Omissão grave

A transparência que a grande mídia corretamente cobra de outras instituições – públicas e privadas –, ela não pratica em relação a si mesma. Permanecemos em 2010 sendo um país democrático onde sequer existe um cadastro geral com acesso público dos concessionários do serviço de radiodifusão.

A transparência pública aplicada aos grupos dominantes da grande mídia certamente revelaria redes de interesses e compromissos – nem sempre legítimos – dos mais variados tipos, locais e globais. No que se refere à radiodifusão, por exemplo, revelaria os absurdos do "coronelismo eletrônico" enraizado em diferentes esferas do poder público; a propriedade cruzada como prática garantidora de oligopólios e monopólios; a exclusão de muitos e a liberdade de poucos apresentada e defendida em nome dos valores universais da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa.

Ainda não será ao final deste ano de 2010 que a grande mídia fará uma avaliação pública de si mesma. Mas, com certeza, esta omissão grave já não passa despercebida para um número cada vez maior de brasileiros.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Imagem: Público e Privado
Quem se interessa pela área dos Estudos Culturais (Cultural Studies), não pode perder a oportunidade de fazer download de quatro livros disponibilizados em formato e-book pela editora Autêntica.

Os Estudos Culturais são um campo de pesquisa/investigação de caráter interdisciplinar, dessa forma explora as formas de produção ou mesmo a criação de significados, utilizando-se do arcabouço teórico de várias áreas.

Os livros fazem parte do catálogo da editora, mas que encontram-se esgotados, mas que ainda são procurados pelo público. Para o acesso, é necessário um pequeno cadastro no sítio da editora. Veja a seguir a sugestão, mas outros títulos poderão ser acessados:

Título: Cartografias dos estudos culturais - Uma versão latino-americana

Autor(a): Ana Carolina D. Escosteguy

Um leitura bem interessante e esclarecedora, o livro apresenta um levantamento teórico e bibliográfico dos principais teóricos de Estudos Culturais da Europa e suas relações com os principais autores dessa área na América Latina.



Título: Nunca fomos humanos - Nos rastros do sujeito

Autor(a): Tomaz Tadeu (Org.)

O livro é uma coletânea de importantes autores sobre a constituição do sujeito frente às representações do próprio ser humano pelo cinema, pela imaginação, pelas relações entre sujeito e objeto. Os autores articulam textos teóricos e reflexão para rastrear vestígios e indícios de conhecimento e cognição na eterna busca pela identidade




Autor(a): José Gil , Ian Hunter , Jeffrey Jerome Cohen , Tradução e organização: Tomaz Tadeu , James Donald

O livro apresenta um conjunto de ensaios que analisam a ficção sobre monstros, chamando a atenção para o caráter problemático da natureza da subjetividade pressuposta na teoria pedagógica — sobretudo na teoria pedagógica crítica. Segundo a sinopse do livro, "a “pedagogia dos monstros” recorre aos monstros para mostrar que o processo de formação da subjetividade é muito mais complicada do que nos fazem crer os pressupostos sobre o “sujeito” que constituem o núcleo das teorias pedagógicas — críticas ou não.”



Título: Teoria cultural e educação - Um vocabulário crítico

Autor(a): Tomaz Tadeu

O livro apresenta mais de 200 verbetes originados de campos tão diversos como a Filosofia, Teoria Literária, Estudos Culturais, Psicanálise e Sociologia. Segundo a sinopse da editora, o livro vem preencher uma lacuna existente, já que "ao ler, nos últimos anos, textos de Teoria Educacional, quem não se deparou com termos como “metafísica da presença”, “sujeito”, “performatividade”, “binarismo”, “episteme”, falagocentrismo”, entre muitos aparentemente estranhos às preocupações das teorias pedagógicas e curriculares? Essa proliferação, na teorização educacional, de termos tomados de empréstimo à teorização social e cultural, demonstra seu amplo caráter intertextual".


Analisando tendências culturais pela freqüência de palavras em livros

O Books Ngram Viewer, do Google Labs, é uma ferramenta para análise da freqüência de palavras em livros, cobrindo um período que vai de 1800 a 2000 e com uma base de dados de mais de 5 milhões de livros.
Podem ser buscadas coleções em inglês, espanhol e outras línguas.
É uma aplicação ainda em versão beta, mas vale a penaexperimentar.
É possível por exemplo, comparar-se a frequência de ocorrência de duas palavras, colocando-as na busca, separadas por vírgulas.
Na imagem acima está uma comparação de ocorrências das palavras 'telephone' e 'television', em livros em língua inglesa, entre 1800 e 2000.
Mais informações sobre o uso aqui.
Via Ponto Media de António Granado.

marcos palacios

Pierre Lévy fala sobre a Cibercultura no Roda Viva de 08/01/01